Água? Qual das águas?

em 27 September, 2010


Artigo de José Renato Nalini.

O e-mail é um instrumento mágico. Permite a comunicação espontânea, imediata e multiplicadora com número crescente de interlocutores. Além da intensificação das relações interpessoais, a rede é pródiga em toda espécie de comunicação.

Recebe-se número considerável de “correntes”, propaganda, mensagens e outros frutos da imaginação informática. Recentemente, recebi um arrazoado sobre as vantagens do consumo de água em jejum. O hábito acarretaria um plus na qualidade de vida de quem a ele se entregasse.

Consultei um médico experiente e consciente. E ele trouxe material de reflexão que merece detida análise de parte de todos os interessados na saúde da população e no futuro da Humanidade. A água que faria bem à saúde seria aquela de que já não dispomos. Água pura, descontaminada; tal como antigamente encontrada na natureza. Por que já não temos essa água?

Aquela que sai de nossas torneiras, quase não pode mais ser chamada “água”. É o resultado de muitas operações de descontaminação, porque substâncias venenosas e agrotóxicos a tornam imprópria ao uso. Nosso Diesel, por exemplo, tem 2.000% – dois mil por cento! – mais enxofre do que aquele consumido na Europa. Mas não é só. Os agrotóxicos vão todos para a torneira e ganham a via de esgotamento e chegam aos rios. Mais algo bastante ignorado: quase 80% das mulheres em idade fértil, entre 15 e 40 anos, tomam anticoncepcionais.

Esse estrógeno fica na urina e vai para o esgoto. Cerca de 7,2 milhões de litros de urina são lançados ao esgoto a cada dia, só em São Paulo. E o tratamento de água não contempla essa contaminação. Parece limitar-se a amenizar o efeito dos coliformes. A cada dia comemos mais alimentos químicos. A agricultura usa, cada vez mais, fertilizantes e agrotóxicos. O frango e o gado são alimentados com ração com propriedades hormonais estrogênicas. Será que ainda se toma água pura?

Paralelamente, alguém tem ideia de quanto se gasta para tratar água com outras substâncias depuradoras e de quanto o Poder Público é obrigado a investir em estações de tratamento de água e esgoto, suas estruturas funcionais e dispêndio de custeio?

José Renato Nalini, desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo, autor da obra “Ética Ambiental”, editora Millennium.

 

(As opiniões dos artigos publicados no site Observatório Eco são de responsabilidade de seus autores.)




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