Especialistas criticam Trump por desarticular a política climática americana

em 29 March, 2017


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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cumprindo as promessas de campanha eleitoral, assinou, nesta terça-feira (28/03), seis resoluções para reverter a política climática de Barack Obama, que visava combater o aquecimento global. As reações de especialistas foram negativas nos Estados Unidos, Brasil e em outros países. A medida de Trump visa desarticular o rumo da economia de energia limpa americana em prol da indústria  do petróleo e carvão. Além disso, prejudica os esforços do Acordo do Clima de Paris, na redução das emissões de gases de efeito estufa. Acordo firmado pelos Estados Unidos, durante o governo de Barack Obama, cuja adesão americana pode vir a ser cancelada por Trump.

Al Gore, ambientalista e ex-vice-presidente dos EUA afirma que a medida que ataca o Plano de Energia Limpa está “longe de um futuro sustentável”. A determinação assinada por Trump que permite à Agência de Proteção Ambiental reverter as proteções e políticas ambientais americanas até então em vigor é “um passo equivocado”, avalia Gore. “É essencial, não só para o nosso planeta, mas também para o nosso futuro econômico, que os Estados Unidos continuem a servir como um líder global na resolução da crise climática através da transição para a energia limpa, uma transição que continuará a ganhar velocidade devido à crescente competitividade da energia solar e eólica”, completa Al Gore, em defesa do Plano Energia Limpa.

No mesmo sentido, porém mais enfática é a avaliação de Mohamed Adow, Christian Aid International, “a ordem executiva proposta por Donald Trump é irresponsável, míope e completamente inaceitável”. “As ações de Trump não só ameaçam as pessoas mais pobres do mundo, que já estão lidando com os efeitos das mudanças climáticas, mas também prejudicam a credibilidade dos EUA e sua posição global”, completa. Para Adow, a medida dotada por Trump, esvazia a crescente indústria de baixa emissão de carbono da América, estrangulando um “boom” de empregos verdes que atualmente está superando o uso de combustíveis fósseis.

Laurence Tubiana, CEO da Fundação Europeia para o Clima, avalia que o envio do Plano de Energia Limpa para a mesa de projetos pode fazer com que o presidente Trump ganhe alguns pontos políticos de um pequeno grupo de interesse, “mas se isso se tornar realidade irá afetar a grande maioria dos americanos, uma vez que irá impulsionar a economia para trás de modo que se assemelha a algo do século 19″. Por outro lado, Tubiana lembra que um “há inúmeros países prontos para intensificar e cumprir suas promessas climáticas e tirar vantagem da visão de curto prazo de Trump para colher os benefícios da transição para a economia de baixo carbono”.

Christiana Figueres, ex-secretária-executiva da UNFCCC e coordenadora da Missão 2020, afirma que “esta decisão vai tornar as coisas mais difíceis, e não mais fáceis, para os americanos. Tentar tornar os combustíveis fósseis competitivos diante de um setor de energia renovável limpa e renovável em expansão, gerando empregos e contribuindo com a qualidade do ar, vai contra o fluxo da economia”. Ela, contudo, está otimista “de que o Acordo de Paris vai durar, com a liderança mundial permanecendo resiliente em seus compromissos”.

Brasil

No Brasil vários especialistas também avaliaram de forma negativa a medida do presidente dos Estados Unidos. Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, aponta que o conjunto de políticas de Trump desestimula a inovação, que sempre foi o motor do crescimento americano, e no setor mais quente da economia global, o de energias renováveis. “A economia do século 21 está se afastando definitivamente das fontes de energia dos séculos 19 e 20, e outros países, como a China, vêm assumindo a liderança nessa transição”, completa Rittl.

No mesmo sentido, André Ferreti, coordenador do Observatório do Clima, pondera que “as companhias americanas não vão querer, nem poder, ficar de fora da economia de século 21. Isso certamente levará o país para o rumo certo, independentemente dos rompantes do míope de plantão na Casa Branca.”

Paulo Artaxo, PhD, professor da Universidade de São Paulo e membro do IPCC, alerta que se os esforços do Acordo de Paris não forem contemplados, o aumento da temperatura pode ser de 3,5 a 4 graus o que pode ser devastador, tanto para os ecossistemas como a Amazônia, como para o sistema socioeconômico que caracteriza nossa sociedade de hoje. Por isso, ele ressalta que o decreto do presidente Trump “é um passo atrás importante por representar o interesse de indústrias que estão não na vanguarda da tecnologia e das indústrias limpas, mas sim no atraso do século 18 e do século 19, como a indústria do carvão”.

Energia limpa

O anúncio de Trump prejudica as políticas que estimulam a competitividade econômica, a criação de empregos, o investimento em infra-estrutura e a saúde pública, na opinião de Nigel Topping, CEO, We Mean Business. “As energias limpas são as preferidas das empresas resilientes e bem-sucedidas. Muitas empresas americanas estabeleceram ambiciosas metas de eficiência energética e energias renováveis,”, reforça Topping.

A ação do governo Trump não é inesperada na avaliação de Mindy Lubber, Presidente da Ceres, contudo “é um passo claro na direção errada e vai contra mais de 365 empresas e investidores norte-americanos que apoiaram publicamente o Plano de Energia Limpa quando foi anunciado em 2015, bem como as mais de 1.000 empresas e investidores que apiam a recém-lançada declaração do Business Backs Low-Carbon EUA”.

Lubber lembra que empresas e investidores americanos apoiam o Plano de Energia Limpa e outras políticas de baixo carbono atualmente sob ataque porque eles são precisamente o tipo de quadro regulatório coerentes e avançados que a comunidade empresarial quer e precisa para investir e crescer com confiança e certeza.

Com a adoção da política climática de Trump pró-carvão e petróleo, os EUA correm o risco de uma transição “paralisada” para uma economia de baixo carbono, dando assim a China e outros países a vantagem, pois abraçam a energia renovável e outras tecnologias de baixo carbono que estão proliferando em todo o globo, completa Mindy Lubber.




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