Mudanças climáticas e a angústia do filósofo

em 4 May, 2019


capaartigo

Artigo de Edgard Tamer Milaré.

Em entrevista concedida ao jornal El País, em 4 de abril último, o filósofo francês Bruno Latour, um dos mais importantes pensadores da atualidade, nos convida a pensar o mundo a partir da angústia gerada com as mudanças climáticas e seus impactos no presente e futuro. Trata-se de uma reflexão proposta em seu novo livro Down to Earth Politic in the New Climate Regime, ainda não publicado no Brasil.

Daí a seguinte indagação: a obra desse autor caracteriza-se como mera produção acadêmica ou é um verdadeiro repto para, mais uma vez, repensarmos as motivações humanas que geram a destruição da natureza e que ameaçam a continuidade da vida no Planeta Terra.

Como aponta o autor, a comprovação da força, da beleza e as reações que nos encantavam diante dos espetáculos da natureza, e que de certo modo nos intimidavam, mas que mantinham um “caráter sublime”, deram lugar nos dias de hoje a um sentimento diferente, de “angústia”, uma vez que nos deparamos com paisagens desoladoras, ocasionadas sobretudo pelas alterações climáticas, que não mais representam a exuberância das imagens passadas, e que nos colocam diante de uma grande responsabilidade, pois, como afirma ele, “dizem que você é responsável pelo que vê”.

Na entrevista, enfatiza, ainda, que os europeus, ocidentais, viviam numa Terra muito utópica, ou seja, imaginávamos que ela se desenvolveria ad infinitum, sem limites. Mas o sonho nunca foi verificado, não tinha fundamento material. Desde o século XIX, com o carvão e o petróleo, a economia havia se tornado infinita. E há uma ansiedade geral por esse desajuste.

Ademais, há crenças políticas e sociais cada vez mais centradas em ideias de que os fenômenos das mudanças climáticas não atingirão todos os países, especialmente a visão do presidente Trump de que os EUA estão num espaço recluso e protegido; uma linha populista também se manifesta na Europa e se comporta por meio de um único ponto de vista, anulando debate de valores rumo à construção de dois universos em paralelo.

São visíveis as degradações do ambiente natural que nos sustenta, assim como a ausência da coletividade em defender a preservação para o bem da Terra mediante a democracia internacional. Destarte, se abandonarmos meios de gerar um mundo compartilhado e vivermos no individualismo perfeito, o ser humano poderá se transformar em um animal sem razão e o planeta Terra um lugar hostil.

Extraído da newsletter do escritório Milaré Advogados.




Deixe um comentário