Movimento em defesa dos animais é novo e se fortalece no Brasil

em 22 May, 2011


O livro “Visão Abolicionista: Ética e Direitos Animais” traz 21 textos de diversos autores, entre eles, Laerte Levai, promotor de justiça, Tamara Levai, bióloga, Dennis Zagha Bluwol, geógrafo. A obra, produzida pela ANDA (Agência de Notícias dos Direitos Animais) e organizada pela jornalista Silvana Andrade, aborda a evolução do movimento pela defesa dos direitos animais no Brasil.

Em entrevista exclusiva ao Observatório Eco, Silvana Andrade conta que o movimento que visa abolir a exploração dos animais no País é recente, porém “consolidado”.  

Ela trabalhou como repórter, coordenadora de produção, editora e editora-chefe nas TVs Cultura, Record, Manchete e Globo News. É a idealizadora da ANDA, a única agência de notícias no gênero que aborda exclusivamente os direitos animais.

Silvana conta que usa a informação como ferramenta de defesa. Revela que  “a falta de informação dos jornalistas em relação aos animais”, motivou o surgimento da agência, criada após a aprovação da “lei Arouca”, que permite o uso de animais para fins científicos no Brasil em 2008.

No combate aos maus-tratos, a agência criou uma cartilha, disponibilizada no final da matéria, que traz orientações de como fazer denúncias. Para a ativista, a lei de crimes ambientais no aspecto punitivo deixa a desejar. “Precisamos de penas mais fortes, e que os crimes contra os animais sejam tratados da mesma forma que os crimes contra as pessoas”, argumenta. Veja a entrevista que Silvana Andrade concedeu ao Observatório Eco com exclusividade.  

Observatório Eco: Existe no Brasil um movimento de defesa dos direitos dos animais?

Silvana Andrade: Sim, existe e apesar de novo, trata-se de um movimento já consolidado. Várias pessoas e grupos já trabalham na perspectiva de abolir a exploração dos animais. Aqui, um movimento mais forte em defesa dos direitos dos animais começou há menos de 10 anos, uma atuação de forma mais dirigida e organizada. Porém, há mais de 20 anos temos aqui a professora e doutora Sonia T. Felipe, que já tratava do tema.  

De uma forma geral, a questão da defesa dos animais começou a se popularizar a partir de 1975, com o livro “Libertação Animal”, de Peter Singer, mas a questão já era discutida, desde sempre, inclusive na época de Descartes.

Observatório Eco: Há no Brasil um grupo em defesa dos animais que atue focado nas questões legislativas?

Silvana Andrade: Dentro do movimento vários grupos atuam em áreas distintas. E isso é importante, pois não é possível um único grupo tratar de todos os temas. Por exemplo, a ANDA é a única agência jornalística de direitos animais do mundo.

Atuamos nesta área, mas entre os nossos colunistas, temos a Andressa Jacobs e a Rosana Gnipper que atuam muito na área legislativa, por exemplo. Assim, em áreas como Direito, Comunicação, Filosofia temos pessoas que trabalham em defesa dos animais. Inclusive nas casas legislativas.

Observatório Eco: Qual a sua avaliação da nossa legislação sobre o bem-estar animal? Ela deixa a desejar?

Silvana Andrade: Até temos uma legislação que protege os animais, se nós cumpríssemos. Não vou dizer que ela é ideal. Para você entender a diferença, outro dia, publicamos uma notícia sobre um leão marinho que foi baleado na cabeça por um caçador. Graças a Deus, o leão marinho sobreviveu, passou por uma cirurgia. Por esse crime, o homem recebeu uma pena de multa de US$ 51 mil, ficou preso na cadeia durante 30 dias, e recebeu pena de cinco anos em condicional.

No Brasil, se alguém matar um animal, no máximo vai pegar uma pena de prisão de seis meses a um ano, que se converte em pagamento de cestas básicas. Dessa forma, no aspecto punitivo a nossa legislação deixa muito a desejar.  Precisamos de penas mais fortes, que os crimes contra os animais sejam tratados da mesma forma que os crimes contra as pessoas.

Observatório Eco: Do que trata o livro “Visão Abolicionista: Ética e Direitos Animais”?

Silvana Andrade: Organizei esse livro que reúne textos de 21 autores, e trata de questões desde filosofia, ética, direito, veganismo, comportamento, moda. Por que chamamos de visão abolicionista?   Porque são várias áreas, todas tratadas pela visão dos direitos animais, temos neste livro também textos de combate à violência.

Observatório Eco: Aqui no Observatório, algumas vezes recebemos denúncias dos leitores sobre maus tratos em animais. Em geral são denúncias de armadilhas de passarinhos. No seu trabalho, você também recebe um número grande de denúncias? Qual o tratamento que vocês dão para essas denúncias?

Silvana Andrade:  Não intermediamos denúncias, mas a ANDA lançou um guia de como denunciar maus tratos aos animais.  No caso de pássaros, aprisionar com armadilhas é considerado crime de caça, artigo 29 da lei federal 9.605/98.

Observatório Eco: Combater essa prática é uma batalha.

Silvana Andrade: É verdade. Somos poucos contra muitos. As pessoas ainda possuem esse péssimo e triste hábito de colocar o passarinho em gaiola. Essa é uma campanha que precisa ser feita. Pretendemos um dia fazer uma grande campanha contra o aprisionamento de pássaros em gaiola. Mas isso também depende de consciência.  No nordeste, inclusive, esse é um hábito ainda muito arraigado.  E tem aquele velho ditado, pássaro na gaiola não canta, lamenta.

Observatório Eco: E há outra grave questão a do trafico internacional de animais, de que forma você avalia esse problema?

Silvana Andrade: O trafico de animais não está apenas na Europa, mas em todos os continentes, os colecionadores particulares colecionam leões, tigres. A Europa tem a tradição da caça países como a Inglaterra, Alemanha.

Muitas vezes, os caçadores importam o animal para caçar, por exemplo, eles importam o leão e jogam lá no meio da floresta para caçar o pobre animal que está fora de seu habitat, etc.

Para combater essas práticas precisamos de um trabalho de inteligência. Combater qualquer tráfico é uma grande dificuldade, seja de drogas, armas ou animais. Faltam estrutura, investimentos, fiscalização, campanhas de conscientização. O trafico só existe porque as pessoas compram.

Observatório Eco: O que te motivou a criar a ANDA?

Silvana Andrade: A falta de informação dos jornalistas em relação aos animais. Trabalhei um período em Brasília, e fizeram uma matéria sobre vivissecções em animais. Existia um lobby muito forte daqueles cientistas que usam animais em experimentação, para que fosse aprovada a lei Arouca, lei federal nº 11.794/2008.

Nesse período, saiu uma matéria que apenas tratava do lado dos cientistas sobre as vivissecções, enfim as falácias às quais eles recorrem, pois atualmente, para quase tudo temos a possibilidade de usar alternativas e não animais em experimentos. E nessa matéria, o jornalista só deu o lado dos cientistas, então liguei para ele e disse “Você não ouviu o outro lado.” Ele respondeu “E tem?” Retruquei, “Claro, o lado dos animais!”. E a partir daí, decidi fazer a agência para mostrar o outro lado.

Observatório Eco: E com relação ao vegetarianismo e o veganismo, temos outra batalha, pois são séculos de alimentação que tem como fonte o animal.

Silvana Andrade: Essa luta ainda vai levar muito tempo, mas estamos começando, abrindo um caminho, uma nova perspectiva para as pessoas refletirem. Até porque, o modo de vida delas com esse consumo, do ponto de vista ético, inaceitável, do ponto de vista ambiental, insustentável.

 

 Clique na figura para acessar a Cartilha.

Para saber mais sobre o livro:

 

 

 

 

 

Para conhecer a ANDA, clique aqui.




5 Comentarios

  1. mariana, 12 anos atrás

    Vamos lutar pelos animais pois o PLANETA NÃO É SÓ DOS SERES HUMANOS!

  2. Joana, 12 anos atrás

    Parabéns ao ANDA pelo trabalho, parabéns ao Observatório Eco por abordar uma questão tão importante.

  3. Michelle Sanches, 12 anos atrás

    Parabéns! O mundo necessita de seres humanos assim: capazes de fazer a diferença mostrando que a vida merece valor em todas as suas formas!

  4. Jonnatah Quarenghi, 12 anos atrás

    Como consigo um exemplar do livro “Visão Abolicionista: ÉTICA E DIREITOS ANIMAIS”

  5. Roseli, 12 anos atrás

    Você pode pedir o livro para a Silvana, neste email: faleconosco@anda.jor.br

    Roseli


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