Maus-tratos a animais está relacionado à violência doméstica, apontam estudos

em 11 April, 2017


ANIMAIS

Em uma casa em que é constatada a prática de maus-tratos contra animais pode estar ocorrendo também violência doméstica. É o que apontam estudos recentes dentro e fora do país, como um questionário aplicado em 2.000 a 43 mulheres em abrigos. Quarenta e seis e meio por cento delas relataram que o parceiro tinha ameaçado ou ferido animais de estimação.

Essa ligação também foi apontada no Brasil no estudo “Crueldade com animais versus violência doméstica contra mulheres: uma conexão real”, da pesquisadora Maria José Sales Padilha. Das 453 mulheres entrevistadas que buscaram atendimento na Delegacia da Mulher e registraram boletim de ocorrência, metade declarou que seus agressores já haviam sido violentos com animais.

Proteção Animal

Em São Paulo, o policial militar Marcelo Robis demonstrou no livro “Maus-tratos aos animais e violência contra pessoas” que, 32% das pessoas autuadas por maus-tratos a animais possuíam registros por lesão corporal, furto, homicídio e ameaça.

“Muitas vezes os animais são cruelmente violentados para intimidar, coagir e controlar as demais pessoas da família. Um ponto comum entre a violência doméstica e maus-tratos aos animais é a vulnerabilidade das vítimas”, afirma a médica veterinária Luciana Vargas Sant’Ana, assistente técnica do Grupo Especial de Combate aos Crimes Ambientais e de Parcelamento do solo (Gecap), do Ministério Público de São Paulo. Ela participou nesta sexta-feira (07/04) do Workshop para Polícia de Proteção Animal, na sede do MPSP, no centro da capital.

Animais de estimação em perigo

Para ilustrar essa situação a promotora de Justiça Fabíola Sucassas contou um fato real de violência doméstica que aconteceu quando ela atuava na zona leste da capital. “Eles eram casados há 10 anos e o relacionamento era conturbado porque o marido era ciumento e controlador. Ele havia cismado que ela o traía. Para obter uma suposta confissão, ele a espancou e a feriu com uma arma branca, além de tê-la agredido e estuprado”, disse. Não contente, ainda de acordo com o relato da promotora, o homem sequestrou a esposa, cortou os cabelos dela e ficou mostrando a ela uma foto do gato que ela possuía. A moça conseguiu fugiu e procurou o MPSP. “Ela me procurou na Promotoria não para pedir maior proteção, mas porque queria o gato de volta uma vez que era a única fonte de carinho que ela tinha”.

Não há dados oficiais sobre violência praticada contra animais no Brasil, mas estima-se que o número seja relevante levando-se em consideração a subnotificação. Na capital paulista, em 2.016 a Prefeitura de São Paulo recebeu mensalmente cerca de 600 notícias de crimes de maus-tratos aos animais por intermédio do portal de atendimento 156, extinto este ano por falta de estrutura para atender a demanda.

No Estado, a polícia registra 21 casos de maus-tratos a animais por dia. Boletins de ocorrência registrados entre 2011 e 2016 revelam casos de agressão física aos bichos por donos em casa até prisões em cativeiros sem condições de higiene ou alimentação e brigas de galo.

Delegacia Eletrônica de Proteção Animal

Um importante instrumento legal que começou a mudar o cenário da subnotificação de denúncias de maus-tratos aos animais foi entregue à população em setembro do ano passado quando passou a funcionar na capital paulista a Delegacia Eletrônica de Proteção Animal, projeto de autoria do deputado estadual Feliciano Filho.

“O objetivo foi dar voz aos animais. Com o aumento das denúncias o sofrimento dos bichos diminui”, afirmou ele. Qualquer pessoa que tenha celular com acesso à internet pode fazer um boletim eletrônico e ainda anexar fotos e vídeos que demonstram as crueldades praticadas. “Com essa facilidade as pessoas viraram praticamente escrivães de polícia”, observou o parlamentar, lembrando que em casos de risco iminente de morte de animais é necessário procurar a Polícia Militar imediatamente.

Mudança na lei

A criação de leis estaduais de proteção animal foi lembrada no seminário pela promotora de Justiça Eloisa Balizardo, do Gecap, que falou sobre o papel do MPSP no crime de maus-tratos a animais e a legislação estadual relacionada a esses casos.

Segundo ela, apesar dos avanços, a luta ainda é árdua e muitas representam um marco no tratamento legal dessa questão como a mais recente lei aprovada no mês passado que estabeleceu que a política de controle de natalidade de cães e gatos e a castração como único método de controle de natalidade de animais errantes (de rua) é obrigação do poder público. “Esse projeto tramitou durante 14 anos. Agora aprovado vai facilitar muito a conversa entre os operadores de Direito e as prefeituras”, disse.

A advogada socioambientalista e autora do livro “O Direito & os Animais” Danielle Tetu Rodrigues afirmou que apesar dos avanços, os crimes contra animais ainda são vistos pelo Direito como de menor potencial ofensivo e punidos, geralmente, com pagamento de cestas básicas ou prestações de serviços à comunidade, muito embora o artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais estabeleça que maltratar animais é crime com pena de detenção de três meses a um ano.

A especialista lembrou, porém, de uma sentença que fugiu a esse tipo de entendimento quando a juíza Patrícia Álvarez Cruz condenou Dalva Lina da Silva, conhecida como “monstro da Mantiqueira” a 12 anos, seis meses e 14 dias de prisão, além do pagamento de multa no valor de R$ 19, 5 mil pelo assassinato de 33 gatos e quatro cachorros. Ela também teve a prisão decretada, mas a medida foi revogada em recurso de segundo grau. Com informações da assessoria.




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