Riscos da vida urbana na era das mudanças climáticas

em 23 February, 2018


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Qual a relação entre luta de classes, mudanças climáticas e centros urbanos? A resposta pode ser encontrada no livro, ainda não lançado no Brasil de Ashley Dawson, em tradução livre: “Cidades extremas: o perigo e a promessa de vida urbana na era das mudanças climáticas”.

Para o autor, as grandes cidades são os maiores instigadores das mudanças climáticas e também suas maiores vítimas. Em seu livro, Ashley Dawson faz uma aguda reflexão sobre o impacto das mudanças climáticas nos grandes centros urbanos e as consequências na vida dos moradores mais pobres.

O argumento de Dawson é simples e persuasivo: as megacidades do mundo usam o combustível para impulsionarem a economia global, atraindo centenas de milhares de pessoas do campo para as favelas urbanas em busca de trabalho. Porém, quanto mais a economia prospera, mais pobres se tornam os moradores das favelas, o clima se deteriora em razão das mudanças provocando enchentes monstruosas. Por outro lado, esse ciclo de destruição e reconstrução dos espaços públicos e privados acaba por favorecer os ricos. Ou seja, os mais ricos lucram duas vezes, com a destruição e reconstrução das cidades, que exige, inclusive, somas vultosas dos cofres públicos.

Para ilustrar seu argumento no livro Dawson se concentra na cidade de Nova York, com referências passageiras por outras cidades, como Jacarta e Xangai, cidades costeiras.

“Treze das maiores cidades do mundo são cidades portuárias”, esclarece o autor. “Isso gerou uma contradição mortal que é um dos fatores mais ignorados do século XXI: a maioria das megacidades do mundo estão em zonas costeiras ameaçadas pelo aumento do nível do mar. Hoje, mais de 50% da população mundial vive a menos de 200 km do mar, até 2025, estima-se que esse valor alcance 75%”, completa.

As inundações após as tempestades se tornaram rotineiras em cidades como Jacarta, Miami, Nova York, Rio de Janeiro,  já em outros locais como Cape Town, a seca deixa as pessoas sem o abastecimento de água. Como aconteceu com a cidade de São Paulo em 2015 com o colapso do sistema Cantareira de abastecimento de água.

As cidades que cresceram sem planejamento urbano jogam os mais pobres para as periferias, onde o saneamento básico é ruim, há maior poluição do ar e a assistência social e de saúde é nula. Quando um grande desastre natural ocorre, os pobres perdem o pouco que têm, e as chances de recuperação diminuem em razão do desemprego, juros,  e o desvio de dinheiro público que deveria amparar as vítimas e erguer obras de reconstrução.

Quando são feitos projetos de habitação popular, para as vítimas das enchentes, o governo deixa esses moradores à própria sorte na periferia, sem transporte público, educação, empregos, saneamento básico e sem segurança pública. Longe dos grandes centros a recuperação dessas pessoas se torna ainda mais difícil.

Exemplo de Nova York

O governo da cidade de Nova York está consciente do impacto das mudanças climáticas e desenvolve planos para “ecologizar” sua cidade, criando barreiras contra o aumento do nível do mar, com parques e trilhas para bicicletas. Mas essas ações só protegem os bairros mais ricos, na visão de Dawson deixando a periferia de Nova York sem ações.

Por outro lado, ao proteger os bairros mais abastados, assim núcleos de sub-moradias vão surgindo ao redor desses oásis urbanos, deixando os mais pobres novamente expostos ao próximo desastre natural.

Quando ocorreu o furacão Sandy em 2012, as autoridades se preocuparam com o os bairros mais prósperos. Foi o movimento social “Occupy Sandy” que se dirigiu para a periferia da cidade para ajudar as vítimas. Angariar roupas, alimentos e improvisar alojamentos para as vítimas. Na época graças ao poder de comunicação das redes sociais a iniciativa conseguiu até criar uma clínica médica gratuita para atender as pessoas.

As autoridades novaiorquinas deixaram de lado os mais pobres e o movimento se tornou uma agência social voluntária que passou a pressionar o governo local,  por exemplo, por alimentos.

Mudança climática e social

Mas Dawson quer em seu livro buscar respostas de como as mudanças climáticas podem trazer mudanças sociais relevantes para a classe trabalhadora e os mais pobre. Como governos e as classes sociais mais abastadas podem mudar seus comportamentos?

Então aqui está uma sugestão do autor: As empresas de alta tecnologia já provaram que são boas em gerar a riqueza de novas maneiras. “Agora, coloquem todas as pessoas inteligentes que vocês reuniram para administrarem a Amazon e SapceX, Google e Apple, e coloque-as na jornada de trabalho que projete uma nova economia que possa reduzir as mudanças climáticas e dar a todos uma vida razoável, incluindo vocês”, provoca Dawson.

Será que o desafio será aceito? Só o tempo dirá.

Ashley Dawson é professor universitário de inglês na Universidade da Cidade de Nova York, e tem se tornado uma autoridade sobre o tema de interconexão das mudanças climáticas, das cidades e da guerra de classes com propostas interessantes e avaliações instigantes.

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